Livro: Políticas Públicas, Sustentabilidade e Agricultura Familiar
Autor: (Org. Maria Laís dos Santos Leite)
Semeando ideias para um campo sustentável, Suely Salgueiro Chacon. O livro organizado por Laís Leite se mostra, desde o título, como uma obra necessária. Políticas Públicas, Sustentabilidade e Agricultura Familiar representam a intersecção feliz de temas-campos que ensejam reflexões sobre como as relações sociais, produtivas, institucionais e políticas estão se dando no meio rural. E mais: como esse território é visto e se vê no espaço público. Quando se pensa as políticas públicas na perspectiva da sustentabilidade, amplia-se a percepção de como avaliar sua pertinência. Considerando as dimensões da sustentabilidade, que abrangem os aspectos ambientais, sociais, econômicos, institucionais e políticos de um território, é possível aquilatar com mais profundidade a capacidade de uma política pública de atender às demandas de uma sociedade. Focando o olhar para os territórios da agricultura familiar, parece mais urgente que se tenha o cuidado de promover políticas públicas que levem em consideração as peculiaridades desse espaço e de seus (suas) habitantes, respeitando não só suas necessidades, mas sua história, sua organização social e política. A lógica eminentemente financeira de gerar lucro com a produção não parece adequada para compor políticas para esses territórios. Além disso, deve-se considerar que, embora apresentem questões e demandas semelhantes, cada um deles é diverso, conforme sua localização natural e social, como mostram os artigos que compõem o livro. A perspectiva da sustentabilidade traz essa premissa: para se gerar uma melhor qualidade de vida para cada um, para o planeta, para a geração atual e para as vindouras, é preciso uma visão completa e complexa que vai além dos aspectos econômicos, e requer uma forte atenção nas demais dimensões que envolvem a busca pela sustentabilidade. Nesse sentido, agricultoras e agricultores familiares são fortíssimos agentes de mudança social. Mesmo com a concorrência do agronegócio e de suas cadeias de comercialização, a agricultura familiar responde pela maior parte da produção de alimentos in natura no mundo, sendo efetivamente o setor que o alimenta, garantindo a segurança alimentar de considerável parte da população. Além disso, é a partir de suas escolhas produtivas e de organização social que se pode encontrar respostas a algumas das graves crises que o planeta enfrenta: mudanças climáticas, fome, desigualdade e pobreza. Não é à toa que o enfoque da Agroecologia e do Bem Viver está cada vez mais presente na vida de grande parte dessas agricultoras e agricultores, fato ressaltado por autores que compõem essa coletânea. As experiências aqui relatadas comprovam que é possível construir opções sustentáveis de produção, que respeitam o meio ambiente, as diferenças sociais e econômicas e que são capazes de gerar não apenas renda, mas essencialmente satisfação de viver. É uma revolução que se semeia no campo das ideias e dos fazeres da agricultura familiar. Para além das experiências aqui relatados, o livro traz um ingrediente importante, que é o cuidado com as escolhas metodológicas dos pesquisadores. Além de inspirar, mostrando um mundo melhor e possível, o livro oferta um leque de abordagens teóricometodológico, baseadas numa escolha epistemológica fortemente identificada com políticas progressistas, que defendem o cuidado com o outro e com o meio ambiente. O que certamente o tornará referência obrigatória para quem estuda essas campostemas. É leitura para se ler sorrindo, imaginando cada espaço retratado, conversando com as agricultoras e agricultores, sentindo os cheiros e sabores e desejando que todos possam conhecer esses lugares onde se semeiam futuros possíveis de esperança. Onde vicejem o bem viver, uma economia mais humana e relações baseadas no cuidado, no afeto e no respeito.