Livro: A Nostalgia dos Apitos
Autor: (Carlos Augusto Pereira Dos Santos)
O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, numa passagem do longo e belo poema chamado Resíduo, faz a seguinte indagação: “(…) Se de tudo fica um pouco, por que não ficaria um pouco de mim? No trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal? (…)”. Começar com Resíduo de Carlos Drummond, é uma forma de amenizar a dor e a nostalgia de todos aqueles que em Camocim, com relação aos trens e navios, e Sobral ou em qualquer outra cidade à margem do ramal ferroviário Camocim-Sobral, com relação ao trem, sabem que de tudo o que vivemos, sentimos e sonhamos, de tudo fica um pouco. Um pouco que é muito, porque nesses casos de nostalgia, há certo pesar, certa tristeza que se amiúda porque parte de uma memória cheia de sons e lamentos. Por isso, diante da documentação coletada pelo professor Carlos Augusto Pereira dos Santos para a feitura dessa obra de título poético e denso: A nostalgia dos Apitos. A estrada de Ferro de Sobral. Quarenta anos depois da partida do último trem de Camocim-CE (1977-2017), a impressão que temos é que há muito de muitos camocinenses nos trens que chegavam e nos navios que partiam, nos navios que atracavam e nos trens que seguiam. Porque de tudo fica um pouco. Nesse sentido, merece atenção especial uma obra de história que traz como base de suas reflexões, a nostalgia. Sentimento tênue e denso, experimentado ao longo do tempo sob perspectivas diferentes, considerado na Era Moderna uma condição médica delicada, a nostalgia seria uma espécie de saudade que parecia não ter fim. Cunhada do grego Nostos, que significa regresso, retorno à casa, e Algia, dor do retorno, do regresso. Por isso, dentro do contexto grego, Ulisses era um melancólico longe de seu lar em Ítaca. Por isso era um homem dolorido e saudoso. Por isso, dentro do contexto de desativação da Estrada de Ferro de Sobral e do Porto da cidade de Camocim, muitos moradores da cidade são melancólicos, doloridos e saudosos.